domingo, 14 de outubro de 2012

Capítulo 27 “Está feito” - FIM DO LIVRO I BELLA




          Renesmee estava agora no consultório improvisado de Carlisle a dormir profundamente, comigo, com Edward e com Carlisle à sua volta na esperança que tudo corresse bem. A rezar para o melhor. Mas, também, com cara de quem vai receber a sua sentença. Agora só nos restava esperar. Esperar que Renesmee acordasse e estivesse bem.
Segundo os estudos de Carlisle, todo o processo deveria demorar um dia inteiro. 24 horas separavam o passado do futuro. 24 horas para que a nossa vida perfeita começasse. Mas ela não podia começar sem eu cumprir uma promessa que tinha feito e não tencionava quebrá-la.
- Tenho que fazer uma coisa. – disse, levantando-me e dirigindo-me para a sala. Já ninguém estava lá. Agora tinham mudado as suas figuras de estátuas para o andar de cima.
Peguei no telefone e marquei um número que já sabia de cor.
- Jacob? – perguntei a medo. Tinha quase a certeza que ele não estava em casa nem perto dela. Ainda não estava recuperado para isso. Ele sempre precisou do seu tempo e do seu espaço para assimilar a informação, e desta vez não seria uma excepção. Mesmo assim, tinha-lhe prometido que o avisava quando acontecesse. Assim ele iria saber quando estivesse preparado, e eu sentir-me-ia melhor.
- Bella? – respondeu do outro lado uma voz rouca e arrastada tão minha familiar. Jacob! Conseguia perceber que estava um pouco agitado, o que me fazia perguntar à quanto tempo é que ele estaria sob a forma humana. Não seria há muito…
Suspirei de alívio. Mas afinal porque é que ele atendeu o telefone? Porque é que estava em casa? Será que aconteceu alguma coisa ao seu pai?
Preparava-me para lhe perguntar isto tudo, mas percebi que não tinha esse direito. Já o tinha perdido. Tanto o direito a perguntas pessoais como o meu amigo foram perdidos quando eu o desiludi de uma forma que ele nunca me ia perdoar.
Em vez de o bombardear com perguntas e dizer que era bom finalmente ouvir a sua voz, apenas disse:
- Está feito – estas duas palavras eram o suficiente para rasgar o resto do seu coração. Estas palavras tornavam tudo muito mais oficial. Isto também era uma forma de admitir a mim mesma que já não podia fazer mais nada. Mas, estas palavras, foram ditas de uma forma bastante impessoal e fria que podiam desfazer qualquer pessoa, mas na verdade não tinha outra maneira de o dizer. Nunca imaginei que o Jacob me atenderia o telefone. Sempre pensei que iria começar o meu discurso com “Pode dizer ao Jacob que…”. Mas o facto de ele estar em casa e atender o telefone dificultava tudo. Pensar que ele estava suficientemente bem para o fazer e segundos depois tudo voltar ao mesmo, era mil vezes pior. Mais uma vez o destruíra. Estava a fazê-lo aos poucos. Cada dia ia piorando. Cada dia as saudades iam ficando maiores. Cada dia tomava mais consciência da realidade.
Conseguia imaginar a sua imagem no momento que eu falei. Era como se o visse à minha frente. Uma postura rígida e dura de raiva. A sua frustração e sofrimento espelhados nos seus olhos castanhos, que mostravam o que lhe ia na alma. Alma… Coisa que eu não tinha agora… Não podia tê-la para conseguir fazer o que fiz.
Não me atrevi a dizer mais nada. O que é que se diz nestas situações? Perguntar se ele está bem? Claro que não está bem, nem perto disso! Dizer-lhe que vai correr tudo bem? Estava a mentir. Nada lhe estava a correr bem. Simplesmente não podem correr pior. A única coisa que podia dizer era que a partir de agora as coisas só podiam melhorar, mas isso são tudo clichés, coisas que nunca usaria com Jacob.
Reparei que Jacob não tinha desligado a chamada, coisa que eu acharia que acontecesse quando ele partisse o telefone, pelo que, segundos depois, ouvi um rugido seguido de alguma coisa a rasgar e a partir, que provavelmente seriam as suas roupas e os móveis, e por fim um uivo de desespero.
Ouvi os seus passos de corrida a abandonar a casa, mas mesmo assim não desliguei a chamada. Fiquei, com o telefone ao ouvido, a rever todas as memórias que foram roubadas da mente da minha filha. Memórias de meses mas que valiam anos. Ela tinha crescido mais do que ninguém nestes últimos meses e isso tudo desapareceu.
Depois de ter ficado assim durante minutos, de telefone ao ouvido e a olhar para o vazio, Edward apareceu atrás de mim e abraçou-me. Beijou a minha testa e pôs a mão sobre a minha que estava a segurar o telefone junto ao ouvido. Como não obteve reacção da minha parte, pressionou um pouco a sua mão numa tentativa de me tirar o telefone. Eu queria dar-lho, a sério que queria, mas o meu corpo estava congelado. Não me conseguia mexer. Só conseguia pensar no meu melhor amigo a sofrer.
Num movimento mais brusco e forte, Edward conseguiu arrancar-me o telefone da mão. O meu corpo reagiu de imediato e abracei-o com toda a minha força.
Edward não se queixou da força que eu estava a aplicar apesar de o estar a magoar, apenas sussurrou ao meu ouvido:
- Vai ficar tudo bem.
- Não, não vai. Mas ao menos eles estão vivos. É isso que eu quero. Que as pessoas que amo estejam vivas. E estou contigo para sempre…
- Para todo o sempre. – Edward abraçou-me, também, com toda a sua força e eu senti-me em casa. Protegida e aconchegada. Quase... bem!